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Se entre meus leitores houver jovens que aspirem se tornar os líderes intelectuais de sua geração, espero que evitem certos erros nos quais eu caí na juventude, por falta de bons conselhos. Quando eu desejava formar uma opinião a respeito de um assunto, eu o estudava, pesava os argumentos dos diferentes lados e tentava chegar a uma conclusão equilibrada. Depois descobri que este não é o modo de fazer as coisas. Um homem de gênio sabe tudo sem a necessidade de estudo; suas opiniões são pontificais e dependem da persuasão de seu estilo literário, e não de argumentos. É necessário ser unilateral, pois isso aumenta a veemência, que é considerada uma prova de força. É essencial apelar a preconceitos e paixões dos quais os homens tenham começado a se envergonhar, e fazer isto em nome de alguma inefável ética nova. É saudável depreciar as mentes lentas e velhacas que requerem evidências para chegar a conclusões. Acima de tudo, o que quer que seja bem antigo deve ser servido como a coisa mais recente. 

Não há nenhuma novidade nesta receita para gênio; era praticada por Carlyle no tempo de nossos avós, e por Nietzsche no tempo de nossos pais, e tem sido praticada em nosso próprio tempo por D. H. Lawrence. Os discípulos de Lawrence consideram que ele enunciou todo tipo de sabedoria nova sobre as relações entre homens e mulheres; na verdade, ele regrediu a ponto de defender a idéia da dominação do macho, associada aos habitantes das cavernas. Na sua filosofia, a mulher existe apenas como algo macio e suave para descansar o herói quando ele volta de sua labuta. As sociedades civilizadas vêm aprendendo a ver algo mais que isto nas mulheres; Lawrence não dá a mínima para a civilização. Ele purga o mundo em busca do que é antigo e sombrio, e adora os vestígios de crueldade asteca no México. Os rapazes, que vêm aprendendo a se comportar, naturalmente o lêem com delícia, e saem por aí agindo o quanto puderem como homens das cavernas, dentro dos limites impostos pelos costumes da sociedade educada.

Um dos mais importantes elementos de sucesso para se tornar um homem de gênio é aprender a arte da denúncia. Você deve sempre denunciar de tal modo que seu leitor pense que é o outro sujeito que está sendo denunciado, e não ele; nesse caso, ele ficará impressionado com seu nobre desdém, enquanto, se ele pensar que é a ele que você está denunciando, então o acusará de insolência grosseira. Carlyle observou: "A população da Inglaterra é de vinte milhões de habitantes, a maior parte deles tolos." Todos que leram isto se consideraram uma das exceções, e então gostaram do comentário. Você não deve denunciar classes bem definidas, como pessoas de alto rendimento, os habitantes de uma certa área, ou os crentes de alguma fé específica; pois, se fizer isto, alguns leitores saberão que sua invectiva dirige-se contra eles. Você tem que denunciar pessoas cujas emoções estão atrofiadas, pessoas para quem só o estudo árduo pode revelar a verdade, porque todos nós sabemos que estas são as outras pessoas, e nós veremos então com simpatia o seu poderoso diagnóstico dos males do nosso tempo.

Ignore fato e razão, viva inteiramente no mundo de suas próprias paixões fantásticas e mitificantes; faça isto com muita sinceridade e convicção, e você se tornará um dos profetas de seu tempo.


* Agradeço à amiga Maria do Carmo Zanini, tradutora, por contribuições neste trabalho.